Lua Negra

Também chamada Lilith, é um ponto fictício na trajetória orbital da Lua ao redor da Terra; mais praticamente, trata-se do segundo foco da órbita lunar (o outro foco é a Terra), cuja posição é sensivelmente a mesma do apogeu lunar (ponto em que a Lua está mais afastada da Terra). Esse ponto não é fixo, desloca-se aproximadamente 40o por ano. A Lua Negra é um ponto altamente metafísico em um mapa astral. É de interesse principal para aqueles que buscam uma dimensão esotérica em Astrologia. Simboliza o oculto, o inconsciente, a parte que as pessoas não reconhecem facilmente nelas, a “sombra” no sentido junguiano do termo. Onde a Lua Negra se encontra é um polo de lucidez absoluta, de luz, tão ofuscante, tão intensa, que se pode querer recusar vê-la. Em seus aspectos dissonantes indicará um corte, uma falta, uma recusa, um vazio, e sempre representará no mapa astral de uma pessoa influenciada por ela alguma coisa incômoda e fascinante para os outros. (AUBIER, 1992, p. 256).

29/08/2010

ILUSÃO

É um fato conhecido e cientificamente comprovado que a percepção sensorial tem limitações. Se, por exemplo, consideramos nossa visão, afirmam os cientistas que ela só é sensível a ondas luminosas na faixa de 4.300 a 6.900 Angstrons, ou seja, do violeta ao vermelho. Uma simples abelha é capaz de ver coisas fora dessa faixa, coisas que nossos olhos nunca viram. De maneira análoga, um morcego ou até mesmo o nosso cão, podem ouvir sons para nós inaudíveis.

É curioso, todavia, que embora esses fatos sejam razoavelmente conhecidos nós, seres humanos, raramente refletimos sobre as conseqüências deles decorrentes. Se pudéssemos de fato compreender quão pouco conhecemos da realidade do Universo que nos cerca, ficaríamos perplexos.

Porém, se acreditarmos que o que percebemos no nosso cotidiano é a única realidade, ou se vivermos como se assim fosse, pode-se afirmar pelo que foi exposto, que estamos completamente iludidos. Lamentavelmente, a imensa maioria dos seres humanos assim vive. Em verdade, o mundo caótico das guerras e violências estúpidas em que vivemos é decorrência direta de nossa falta de compreensão da vida e do seu objetivo. Tudo se passa como se navegássemos sem orientação dentro de um denso nevoeiro! Maya - a ilusão.

Por que o nevoeiro impede a clara visão? Porque a luz é impedida de dirigir-se em linha reta pelas constantes refrações e conseqüentes desvios, produzidos pelas impurezas suspensa no ar: as gotículas de vapor d'água condensado. Sofrendo a luz esses desvios, as proporções dos objetos deixam de ser claras e é lastimavelmente perdida a visão à distância, o que costuma ocasionar a colisão de um navio com algum objeto oculto e, portanto, não previsto, sucedendo então o naufrágio.

Alegoricamente falando, o que representam essas gotículas suspensas no ar? Que impurezas são essas? São os nossos condicionamentos, hábitos, predileções, idiossincrasias, nossas atrações e repulsões. Essa mesma idéia tem sido comparada, parabolicamente, pelos sábios de todos os tempos com a superfície de um lago. Quando sopra o “vento do desejo” a sua superfície, considerada como um espelho, fica logo enrugada pelas saliências e reentrâncias, convexidades e concavidades. Assim sendo, quando gostamos de algo, ou seja, quando sentimos atração por algo, enxergamos de maneira aumentada pelas concavidades da superfície da água a parte do objeto que nos atrai: as pétalas da rosa. Contudo, ficamos cegos para os seus espinhos através da ação redutora das convexidades. Ficaremos, talvez, atônitos ao encontrar esses espinhos mais tarde. Por outro lado, quando temos aversão por alguma coisa, a distorção das proporções do fato decorre no sentido inverso e enxergamos somente os espinhos da rosa, sem perceber a beleza de suas pétalas.

Eis porque é tão difícil observar o que é; porque as impurezas de nossa mente nos dão uma visão tendenciosa das coisas. Só com desaparecimento dessas idiossincrasias, que são o próprio “eu” do observador, é que pode ocorrer a clara visão. Por isso, as tradições de todos os tempos sempre afirmaram que o caminho para a verdadeira sabedoria é o do auto-esquecimento, a renúncia de si mesmo.

Um homem pode ser muito inteligente, pode mesmo confiar nessa inteligência para resolver problemas concretos ou abstratos nos quais as suas impurezas não estejam envolvidas, mas em qualquer ponto em que seu coração estiver apegado, onde houver o pesado jugo da escravidão, que é dependência, a ilusão se manifestará implacavelmente e a dúvida e o conflito, que são inseparáveis, surgirão. Desse fato se deduz que a sabedoria não depende apenas da mente fria que analisa, mas também de um coração puro, acolhendo a percepção e mantendo límpido o horizonte.

Por esse motivo, as tradições sempre representam o sábio como um homem livre de apegos. Nele não há conflitos, mas aquela paz que transcende o entendimento. Aquele que não se afunda nas águas da sensação-emoção e que é senhor dos ventos do desejo, é realmente capaz de acalmar as tempestades da alma humana. Essa é a alegoria bíblica do sábio ou iluminado que caminha triunfalmente sobre as águas - ele conquistou a vitória sublime. Como disse o Buda: “Mais glorioso não é quem vence em batalhas a milhares de homens, mas sim, quem a si mesmo vence.”

Talvez seja interessante enfatizar que a ilusão nem sempre corresponde à percepção de coisas completamente irreais, como confundir uma corda com uma serpente, para citar o exemplo de Sri Shankararâchârya, no Vivekachudamani. Muitas vezes ela decorre da percepção distorcida de fatos reais, ou seja, de uma visão distorcida da proporção dos fatos perante a totalidade do contexto em que eles estão inseridos. Talvez seja essa a forma mais sutil e enganosa da ilusão. É neste ponto que ela mostra a sua capacidade máxima de nos enganar, porque nós geralmente não estamos atentos para esse contexto maior dentro do qual nossa vida se desenrola.

Platão, na alegoria da caverna, fala da maioria dos homens como se eles só conhecessem as sombras dos objetos. Ora, as sombras são projeções de contornos ou de seções meridianas dos objetos e, portanto, não são irreais; é evidente, porém, que elas não são os objetos. Se nós tomarmos a sombra de um objeto, ou mesmo a sua fotografia, ambas bidimensionais, como sendo o próprio objeto em sua totalidade, que é tridimensional, estaremos completamente iludidos. Logo, sem o conhecimento da totalidade, ou seja, do uno que projeta as partes ou sombras, não é possível a visão na correta perspectiva; a reta percepção de o que é, ou seja, das coisas como elas são.

Cabe, então, a pergunta: o que nos faz perder essa percepção da totalidade, do Uno? É o egocentrismo de nossa mente. Que é o egoísmo senão a insensibilidade para perceber o todo devido ao apego às partes? Portanto, o que de fato necessitamos para dissolver a ilusão é de uma percepção abrangente, que não esteja circunscrita ao pequeno. Amor é essa percepção do significado da vida que nos cerca, é essa sensibilidade que nos une com o todo, momento a momento.

Na vida diária isto significa duas coisas: em primeiro lugar, que você há de ser cuidadoso para não causar dano qualquer a ser vivente; e, em segundo, que você há de estar sempre vigiando por uma oportunidade de prestar auxílio.” Estas palavras, que encontramos em “Aos Pés do Mestre”, de Krishnamurti, encerram em si a síntese da vida espiritual. Elas indicam qual deve ser a direção dos nossos primeiros passos na direção do Real, mas, por um daqueles paradoxos que caracterizam o Ocultismo, elas contêm em si a essência dos últimos, também.
Ricardo Lindemann
(Membro da Sociedade Teosófica pela Loja Dharma, de Porto Alegre-RS)